SOU CONTRA A EUTANÁSIA POR PRINCÍPIOS RELIGIOSOS E HUMANOS
O jornal “Folha de São Paulo” publicou (08 jan 08) um artigo do escritor Rubem Alves, onde ele defende a prática da eutanásia “por motivos éticos”.
Diz ele, entre outras coisas: “Deus é amor. O amor, segundo os textos sagrados, é fazer aos outros aquilo que desejaríamos que fosse feito conosco, numa situação semelhante. Amo os cães e já tive dezenas. Muitos deles eu mesmo levei ao veterinário para que lhes fosse dado o alívio para o seu sofrimento… a vida não será como a música? Uma música sem fim seria insuportável. Toda música quer morrer. A morte é parte da beleza da música… A vida, esgotada a alegria, deseja morrer. O que eu desejo para mim é que as pessoas que me amam me amem do jeito como eu amo os meus cachorros.”
O escritor citado comete um grande erro básico ao comparar a vida de um cão com a de um homem, e mostra não entender o valor transcendente da vida humana e do sofrimento. Um cão não tem alma; não tem vida eterna; foi criado para estar a serviço do homem, com uma vida finita. O ser humano, por outro lado, foi criado à imagem do Criador (Gn 1, 26), com um destino eterno junto a seu Deus. E este destino eterno muitas vezes pode ser decidido no leito de morte.
A vida terrena é semente da eternidade; muitas vezes os dias e as horas de sofrimento de uma pessoa são decisivas para a definição de sua eternidade com Deus ou longe Dele. A morte de um homem não é a morte de um cão. Quem faz esta semelhança nivela o homem ao ser irracional e o esvazia e desvaloriza radicalmente. Por isso me assusta o que escreveu Rubem Alves.
Deus é amor, sim, mas também é a verdade. Não existe verdadeiro amor sem respeito à verdade. O mesmo Deus que mandou amar mandou “não matar”. E Deus não viola as suas próprias leis. O escritor citado interpreta a Palavra de Deus a seu bel prazer, e a corrompe na essência. É exatamente para que não acontecesse esses absurdos que Jesus confiou somente ao Magistério sagrado da Igreja o ofício de interpretar a Sua Palavra. Disse a “Dei Verbum”: “O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo.” (DV, 10)
Absurdos como o que vemos acima acontecem exatamente porque alguém, segundo o “livre exame” das sagradas Escrituras, pretende ser seu legitimo intérprete, rejeitando o que quis o Senhor.
A vida é o dom de Deus para o homem por excelência; e deve ser preservada, defendida, cuidada da concepção até a morte. Rubem Alves usa de um argumento insustentável para defender a eutanásia; ele diz: “se Deus é o senhor da vida e também o senhor da morte, qualquer coisa que se faça para impedir a morte, que aconteceria inevitavelmente, se o corpo fosse entregue à vontade de Deus, sem os artifícios humanos para prolongá-la, seriam também uma transgressão da vontade divina. Tirar a vida artificialmente seria tão pecaminoso quanto impedir a morte artificialmente, porque se trata de intromissões dos homens na ordem natural das coisas determinada por Deus.”
Esse raciocínio e essa lógica são tão absurdas que nos levam ao limiar da mentalidade que trata o ser humano simplesmente como um objeto. Querer negar os recursos da tecnologia e da medicina para melhorar, preservar e defender a vida humana da morte, seria menosprezar o grande dom da inteligência que Deus deu ao homem, e negar a régia missão que lhe concedeu de construir esse mundo. Salvar a vida e defende-la é vontade de Deus, mas precipitar a morte é voltar-se contra o Criador.
De acordo com o Papa João Paulo II, na Encíclica “O Evangelho da Vida”, a eutanásia deve ser considerada como uma falsa piedade, mais ainda, como uma preocupante «perversão» da mesma. A verdadeira compaixão nos torna solidário com a dor de outros, e não a eliminar a pessoa que sofre.
A eutanásia coloca a vida do mais fraco e indefeso nas mãos do mais forte; perde-se o sentido da justiça na sociedade e se mina em sua própria raiz a confiança recíproca, fundamento de toda relação autêntica entre as pessoas.
É interessante considerar o que disse a “Conferência Episcopal Espanhola” em um documento difundido em 19 de fevereiro de 1998, com motivo de uma campanha realizada naquele país para legalizar a eutanásia:
“Hoje a eutanásia é novamente aceitável para alguns por causa do estendido individualismo e da conseguinte má compreensão da liberdade como uma mera capacidade de decidir algo com tal de que o indivíduo a julgue necessária ou conveniente. “Minha vida é minha: ninguém pode me dizer o que tenho que fazer com ela.” “Tenho direito a viver, mas não me pode obrigar a viver.”
Afirmações como estas são as que se repetem para justificar o que se chama “o direito à morte digna”, eufemismo para dizer, em realidade, o “direito de se matar”. Mas este modo de falar denota um egocentrismo que se torna literalmente mortal e que põe em perigo a convivência justa entre os homens. Os indivíduos se erigem, deste modo, em falsos “deuses” dispostos a decidir sobre sua vida e sobre a de outros.
Ao mesmo tempo, a existência humana tende a ser concebida como uma mera ocasião para “desfrutar”. Não são poucos os falsos profetas da vida “indolor” que exortam a não agüentar nada absolutamente e a que nos rebelemos contra o menor contratempo. Segundo eles, o sofrimento, a resistência e o sacrifício, são coisas do passado, quinquilharias que a vida moderna teria superado já totalmente. Uma vida “de qualidade” seria hoje uma vida sem sofrimento algum.
Quem pensa que resta ainda algum lugar para a dor e o sacrifício, é tachado de “antigo” e de cultivador de uma moral para escravos. Não é estranho que desde atitudes hedonistas deste tipo, unidas ao individualismo, se ouça supostas justificações da eutanásia como estas: “eu decido quando minha vida já não vale a pena” ou “ninguém pode ser obrigado a viver uma vida sem qualidade”. (II, b), 7.e 8. www.arvo.net )
Algumas perguntas precisam ser feitas: Merece viver uma pessoa idosa, que não pode valer-se já se por si mesma, depois de ter trabalhado em benefício da sociedade, e em muitas ocasiões, por aqueles que vão decidir sobre sua morte? Vale a pena prestar assistência aos doentes e deficientes, já que sua produtividade é menor, mínima ou nula? O que fazemos se faltarem leitos nos hospitais? Vamos eliminar os doentes irrecuperáveis para economizar nos gastos de saúde?
Uma sociedade que legitima a eutanásia suicida, é uma sociedade que está proclamando seu descaso com a solidariedade, afeto, carinho a seus doentes terminais.
Não é mediante a eutanásia ou o suicídio assistido que vamos ajudar nossos entes querido a morrer dignamente. A morte verdadeiramente digna é promovida quando nos aproximamos do idoso ou doente terminal dispostos a padecer com ele, e oferecer-lhe os cuidados e a atenção que aliviem as suas dores físicas e morais.
A Igreja não quer que se chegue ao exagero da “obstinação terapêutica” para adiar a morte inevitável, mas não aceita apressá-la quando a vida pode continuar por processos e meios ordinários.
O Catecismo da Igreja nos ensina: §2276 – “Aqueles cuja vida está diminuída ou enfraquecida necessitam de um respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas para levarem uma vida tão normal quanto possível.”
§2277 – “Sejam quais forem os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inadmissível. Assim, uma ação ou uma omissão que, em si ou na intenção, gera a morte a fim de suprimir a dor, constitui um assassinato gravemente contrário a dignidade da pessoa humana e ao respeito pelo Deus vivo, seu Criador. O erro de juízo no qual se pode ter caído de boa-fé não muda a natureza deste ato assassino, que sempre deve ser proscrito e excluído (SDF, decl. Iura et bona, 1980).”
§2278 – “A interrupção de procedimentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionais aos resultados esperados pode ser legítima. É a rejeição da “obstinação terapêutica”. Não se quer dessa maneira provocar a morte; aceita-se não poder impedi-la. As decisões devem ser tomadas pelo paciente, se tiver a competência e a capacidade para isso; caso contrário, pelos que têm direitos legais, respeitando sempre a vontade razoável e os interesses legítimos do paciente.”
§2279 – “Mesmo quando a morte é considerada iminente, os cuidados comumente devidos a uma pessoa doente não podem ser legitimamente interrompidos. O emprego de analgésicos para aliviar os sofrimentos do moribundo, ainda que o risco de abreviar seus dias, pode ser moralmente conforme à dignidade humana se a morte não é desejada, nem como fim nem como meio, mas somente prevista e tolerada como inevitável. Os cuidados paliativos constituem uma forma privilegiada de caridade desinteressada. Por esta razão devem ser encorajados.”
Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br
O jornal “Folha de São Paulo” publicou (08 jan 08) um artigo do escritor Rubem Alves, onde ele defende a prática da eutanásia “por motivos éticos”.
Diz ele, entre outras coisas: “Deus é amor. O amor, segundo os textos sagrados, é fazer aos outros aquilo que desejaríamos que fosse feito conosco, numa situação semelhante. Amo os cães e já tive dezenas. Muitos deles eu mesmo levei ao veterinário para que lhes fosse dado o alívio para o seu sofrimento… a vida não será como a música? Uma música sem fim seria insuportável. Toda música quer morrer. A morte é parte da beleza da música… A vida, esgotada a alegria, deseja morrer. O que eu desejo para mim é que as pessoas que me amam me amem do jeito como eu amo os meus cachorros.”
O escritor citado comete um grande erro básico ao comparar a vida de um cão com a de um homem, e mostra não entender o valor transcendente da vida humana e do sofrimento. Um cão não tem alma; não tem vida eterna; foi criado para estar a serviço do homem, com uma vida finita. O ser humano, por outro lado, foi criado à imagem do Criador (Gn 1, 26), com um destino eterno junto a seu Deus. E este destino eterno muitas vezes pode ser decidido no leito de morte.
A vida terrena é semente da eternidade; muitas vezes os dias e as horas de sofrimento de uma pessoa são decisivas para a definição de sua eternidade com Deus ou longe Dele. A morte de um homem não é a morte de um cão. Quem faz esta semelhança nivela o homem ao ser irracional e o esvazia e desvaloriza radicalmente. Por isso me assusta o que escreveu Rubem Alves.
Deus é amor, sim, mas também é a verdade. Não existe verdadeiro amor sem respeito à verdade. O mesmo Deus que mandou amar mandou “não matar”. E Deus não viola as suas próprias leis. O escritor citado interpreta a Palavra de Deus a seu bel prazer, e a corrompe na essência. É exatamente para que não acontecesse esses absurdos que Jesus confiou somente ao Magistério sagrado da Igreja o ofício de interpretar a Sua Palavra. Disse a “Dei Verbum”: “O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo.” (DV, 10)
Absurdos como o que vemos acima acontecem exatamente porque alguém, segundo o “livre exame” das sagradas Escrituras, pretende ser seu legitimo intérprete, rejeitando o que quis o Senhor.
A vida é o dom de Deus para o homem por excelência; e deve ser preservada, defendida, cuidada da concepção até a morte. Rubem Alves usa de um argumento insustentável para defender a eutanásia; ele diz: “se Deus é o senhor da vida e também o senhor da morte, qualquer coisa que se faça para impedir a morte, que aconteceria inevitavelmente, se o corpo fosse entregue à vontade de Deus, sem os artifícios humanos para prolongá-la, seriam também uma transgressão da vontade divina. Tirar a vida artificialmente seria tão pecaminoso quanto impedir a morte artificialmente, porque se trata de intromissões dos homens na ordem natural das coisas determinada por Deus.”
Esse raciocínio e essa lógica são tão absurdas que nos levam ao limiar da mentalidade que trata o ser humano simplesmente como um objeto. Querer negar os recursos da tecnologia e da medicina para melhorar, preservar e defender a vida humana da morte, seria menosprezar o grande dom da inteligência que Deus deu ao homem, e negar a régia missão que lhe concedeu de construir esse mundo. Salvar a vida e defende-la é vontade de Deus, mas precipitar a morte é voltar-se contra o Criador.
De acordo com o Papa João Paulo II, na Encíclica “O Evangelho da Vida”, a eutanásia deve ser considerada como uma falsa piedade, mais ainda, como uma preocupante «perversão» da mesma. A verdadeira compaixão nos torna solidário com a dor de outros, e não a eliminar a pessoa que sofre.
A eutanásia coloca a vida do mais fraco e indefeso nas mãos do mais forte; perde-se o sentido da justiça na sociedade e se mina em sua própria raiz a confiança recíproca, fundamento de toda relação autêntica entre as pessoas.
É interessante considerar o que disse a “Conferência Episcopal Espanhola” em um documento difundido em 19 de fevereiro de 1998, com motivo de uma campanha realizada naquele país para legalizar a eutanásia:
“Hoje a eutanásia é novamente aceitável para alguns por causa do estendido individualismo e da conseguinte má compreensão da liberdade como uma mera capacidade de decidir algo com tal de que o indivíduo a julgue necessária ou conveniente. “Minha vida é minha: ninguém pode me dizer o que tenho que fazer com ela.” “Tenho direito a viver, mas não me pode obrigar a viver.”
Afirmações como estas são as que se repetem para justificar o que se chama “o direito à morte digna”, eufemismo para dizer, em realidade, o “direito de se matar”. Mas este modo de falar denota um egocentrismo que se torna literalmente mortal e que põe em perigo a convivência justa entre os homens. Os indivíduos se erigem, deste modo, em falsos “deuses” dispostos a decidir sobre sua vida e sobre a de outros.
Ao mesmo tempo, a existência humana tende a ser concebida como uma mera ocasião para “desfrutar”. Não são poucos os falsos profetas da vida “indolor” que exortam a não agüentar nada absolutamente e a que nos rebelemos contra o menor contratempo. Segundo eles, o sofrimento, a resistência e o sacrifício, são coisas do passado, quinquilharias que a vida moderna teria superado já totalmente. Uma vida “de qualidade” seria hoje uma vida sem sofrimento algum.
Quem pensa que resta ainda algum lugar para a dor e o sacrifício, é tachado de “antigo” e de cultivador de uma moral para escravos. Não é estranho que desde atitudes hedonistas deste tipo, unidas ao individualismo, se ouça supostas justificações da eutanásia como estas: “eu decido quando minha vida já não vale a pena” ou “ninguém pode ser obrigado a viver uma vida sem qualidade”. (II, b), 7.e 8. www.arvo.net )
Algumas perguntas precisam ser feitas: Merece viver uma pessoa idosa, que não pode valer-se já se por si mesma, depois de ter trabalhado em benefício da sociedade, e em muitas ocasiões, por aqueles que vão decidir sobre sua morte? Vale a pena prestar assistência aos doentes e deficientes, já que sua produtividade é menor, mínima ou nula? O que fazemos se faltarem leitos nos hospitais? Vamos eliminar os doentes irrecuperáveis para economizar nos gastos de saúde?
Uma sociedade que legitima a eutanásia suicida, é uma sociedade que está proclamando seu descaso com a solidariedade, afeto, carinho a seus doentes terminais.
Não é mediante a eutanásia ou o suicídio assistido que vamos ajudar nossos entes querido a morrer dignamente. A morte verdadeiramente digna é promovida quando nos aproximamos do idoso ou doente terminal dispostos a padecer com ele, e oferecer-lhe os cuidados e a atenção que aliviem as suas dores físicas e morais.
A Igreja não quer que se chegue ao exagero da “obstinação terapêutica” para adiar a morte inevitável, mas não aceita apressá-la quando a vida pode continuar por processos e meios ordinários.
O Catecismo da Igreja nos ensina: §2276 – “Aqueles cuja vida está diminuída ou enfraquecida necessitam de um respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas para levarem uma vida tão normal quanto possível.”
§2277 – “Sejam quais forem os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inadmissível. Assim, uma ação ou uma omissão que, em si ou na intenção, gera a morte a fim de suprimir a dor, constitui um assassinato gravemente contrário a dignidade da pessoa humana e ao respeito pelo Deus vivo, seu Criador. O erro de juízo no qual se pode ter caído de boa-fé não muda a natureza deste ato assassino, que sempre deve ser proscrito e excluído (SDF, decl. Iura et bona, 1980).”
§2278 – “A interrupção de procedimentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionais aos resultados esperados pode ser legítima. É a rejeição da “obstinação terapêutica”. Não se quer dessa maneira provocar a morte; aceita-se não poder impedi-la. As decisões devem ser tomadas pelo paciente, se tiver a competência e a capacidade para isso; caso contrário, pelos que têm direitos legais, respeitando sempre a vontade razoável e os interesses legítimos do paciente.”
§2279 – “Mesmo quando a morte é considerada iminente, os cuidados comumente devidos a uma pessoa doente não podem ser legitimamente interrompidos. O emprego de analgésicos para aliviar os sofrimentos do moribundo, ainda que o risco de abreviar seus dias, pode ser moralmente conforme à dignidade humana se a morte não é desejada, nem como fim nem como meio, mas somente prevista e tolerada como inevitável. Os cuidados paliativos constituem uma forma privilegiada de caridade desinteressada. Por esta razão devem ser encorajados.”
Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br
Comentários