Jéssica Marçal
Da Redação CN
Arquivo pessoal
Evandro Gussi é professor na área de Doutrina Social da Igreja
Como é a vida em sociedade, ou melhor, como ela deveria ser? Atenta às necessidades do homem, a Igreja procura orientar essa vivência, de forma que todos possam ter vida plena com justiça, paz, boas condições de trabalho, respeito recíproco e, acima de tudo, dignidade humana. Esses são alguns dos principais temas tratados na Doutrina Social da Igreja.
Nesta semana, o noticias.cancaonova.com inicia uma série de cinco reportagens sobre essa temática, discutindo alguns pontos-chaves da doutrina, como a relação pessoa-sociedade, família, justiça social e trabalho e dignidade humana.
Na primeira reportagem, Evandro Gussi, doutor em Direito do Estado e professor na área de Doutrina Social da Igreja, explica o que é a doutrina e quais são as suas bases. “Desde que há Igreja, há um ensino sobre como nos comportarmos nas relações que nós possuímos na vida humana, as relações sociais”.
Evandro informa que, em fins do século XIX, surge uma novidade que é a Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII. Ela trouxe uma especificidade magisterial, ou seja, o ensino social da Igreja que estava diluído em todo o pensamento católico começou a ganhar um lugar específico nesse ensino que a Igreja traz para o homem.
Princípios básicos
A fonte da Doutrina Social da Igreja tem duas vertentes: a lei natural, que é a capacidade do homem compreender a racionalidade do mundo, e a revelação, ou seja, Deus que se revela ao homem.
Quanto aos princípios nos quais a doutrina se baseia, esses são vários, mas alguns podem ser tidos como principais. O bem comum é um dos destacados por Evandro, que fala também da destinação universal dos bens: o que existe no mundo, em primeiro momento, é destinado a todos, tendo sua conquista submetida ao esforço humano.
Somando esses dois princípios, o professor cita a subsidiariedade (não dar a instâncias maiores o que as menores podem fazer. Exemplo: a educação dos filhos é dever da família, e não do Estado), o da participação (direito e dever de participar nas decisões econômicas, sociais e políticas) e o da solidariedade (ver no outro um outro “eu”).
Doutrina Social da Igreja x ideologia
Não raramente entende-se a Doutrina Social da Igreja como uma ideologia da Igreja. Gussi explicou que há vários significados para a palavra “ideologia”. Considerando aquele comumente utilizado, que faz alusão, por exemplo, à ideologia marxista, Evandro afirma que a doutrina não é ideologia.
“A Doutrina Social da Igreja está no âmbito da Teologia Moral. Na verdade, ela é ensino da Igreja Católica, da mesma forma como a Igreja tem a doutrina sobre os sacramentos, sobre tantos assuntos, temos uma sobre como a pessoa deve se comportar na sociedade”.
Um ponto ressaltado pelo professor é que a doutrina vem da contemplação da realidade, ou seja, a Igreja olha para o que é concreto e não somente para o que ela acha que deveria ser. “Quando a Igreja defende a família, ela percebe que no decorrer da história da pessoa humana o ser humano nunca foi feliz fora da família adequadamente constituída”.
Evandro lembra ainda que todos os Papas desde Leão XIII, que começou esse ensino mais específico, deixam claro que a Doutrina da Igreja, sobretudo a Doutrina Social da Igreja, não pode ser reduzida a uma ideologia. “A Doutrina Social da Igreja reconhece que há campos onde se possa discutir ideários políticos, sócio-econômicos e assim por diante. Isso está no âmbito da liberdade acadêmica e científica, mas tentar reduzir a doutrina a uma ideologia, qualquer que seja, é destruí-la”.
A doutrina além da religião
Tendo em vista os princípios amplos, que contemplam a defesa do bem comum, da dignidade do homem, reflexões sobre o trabalho e família, por exemplo, a Doutrina Social da Igreja não se restringe aos católicos, embora formulada especificamente pela Igreja Católica.
Para Evandro, esses valores devem influenciar a vida social. Ele acredita que a Igreja foi uma grande contribuinte para o progresso da humanidade.
“A Igreja é perita em humanidade. Ninguém se dedicou a compreender a pessoa humana e essas relações tanto e durante tanto tempo quanto a Igreja Católica. Quando a Igreja fala desses temas, ela não está levando dogmas para a vida civil, mas lançando luzes. (...) É um erro grave dos nossos tempos ter pessoas que, em nome de uma falsa concepção de Estado laico ou de sociedade laica, desprezam este ensino da Igreja”.
Todos esses princípios da Igreja que ajudam a compreender a vida em sociedade estão reunidos no Compêndio da Doutrina Social da Igreja, lançado pelo Pontifício Conselho da Justiça e Paz em 2004. O documento está disponível gratuitamente no site oficial do Vaticano.
Nesta semana, o noticias.cancaonova.com inicia uma série de cinco reportagens sobre essa temática, discutindo alguns pontos-chaves da doutrina, como a relação pessoa-sociedade, família, justiça social e trabalho e dignidade humana.
Na primeira reportagem, Evandro Gussi, doutor em Direito do Estado e professor na área de Doutrina Social da Igreja, explica o que é a doutrina e quais são as suas bases. “Desde que há Igreja, há um ensino sobre como nos comportarmos nas relações que nós possuímos na vida humana, as relações sociais”.
Evandro informa que, em fins do século XIX, surge uma novidade que é a Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII. Ela trouxe uma especificidade magisterial, ou seja, o ensino social da Igreja que estava diluído em todo o pensamento católico começou a ganhar um lugar específico nesse ensino que a Igreja traz para o homem.
Princípios básicos
A fonte da Doutrina Social da Igreja tem duas vertentes: a lei natural, que é a capacidade do homem compreender a racionalidade do mundo, e a revelação, ou seja, Deus que se revela ao homem.
Quanto aos princípios nos quais a doutrina se baseia, esses são vários, mas alguns podem ser tidos como principais. O bem comum é um dos destacados por Evandro, que fala também da destinação universal dos bens: o que existe no mundo, em primeiro momento, é destinado a todos, tendo sua conquista submetida ao esforço humano.
Somando esses dois princípios, o professor cita a subsidiariedade (não dar a instâncias maiores o que as menores podem fazer. Exemplo: a educação dos filhos é dever da família, e não do Estado), o da participação (direito e dever de participar nas decisões econômicas, sociais e políticas) e o da solidariedade (ver no outro um outro “eu”).
Doutrina Social da Igreja x ideologia
Não raramente entende-se a Doutrina Social da Igreja como uma ideologia da Igreja. Gussi explicou que há vários significados para a palavra “ideologia”. Considerando aquele comumente utilizado, que faz alusão, por exemplo, à ideologia marxista, Evandro afirma que a doutrina não é ideologia.
“A Doutrina Social da Igreja está no âmbito da Teologia Moral. Na verdade, ela é ensino da Igreja Católica, da mesma forma como a Igreja tem a doutrina sobre os sacramentos, sobre tantos assuntos, temos uma sobre como a pessoa deve se comportar na sociedade”.
Um ponto ressaltado pelo professor é que a doutrina vem da contemplação da realidade, ou seja, a Igreja olha para o que é concreto e não somente para o que ela acha que deveria ser. “Quando a Igreja defende a família, ela percebe que no decorrer da história da pessoa humana o ser humano nunca foi feliz fora da família adequadamente constituída”.
Evandro lembra ainda que todos os Papas desde Leão XIII, que começou esse ensino mais específico, deixam claro que a Doutrina da Igreja, sobretudo a Doutrina Social da Igreja, não pode ser reduzida a uma ideologia. “A Doutrina Social da Igreja reconhece que há campos onde se possa discutir ideários políticos, sócio-econômicos e assim por diante. Isso está no âmbito da liberdade acadêmica e científica, mas tentar reduzir a doutrina a uma ideologia, qualquer que seja, é destruí-la”.
A doutrina além da religião
Tendo em vista os princípios amplos, que contemplam a defesa do bem comum, da dignidade do homem, reflexões sobre o trabalho e família, por exemplo, a Doutrina Social da Igreja não se restringe aos católicos, embora formulada especificamente pela Igreja Católica.
Para Evandro, esses valores devem influenciar a vida social. Ele acredita que a Igreja foi uma grande contribuinte para o progresso da humanidade.
“A Igreja é perita em humanidade. Ninguém se dedicou a compreender a pessoa humana e essas relações tanto e durante tanto tempo quanto a Igreja Católica. Quando a Igreja fala desses temas, ela não está levando dogmas para a vida civil, mas lançando luzes. (...) É um erro grave dos nossos tempos ter pessoas que, em nome de uma falsa concepção de Estado laico ou de sociedade laica, desprezam este ensino da Igreja”.
Todos esses princípios da Igreja que ajudam a compreender a vida em sociedade estão reunidos no Compêndio da Doutrina Social da Igreja, lançado pelo Pontifício Conselho da Justiça e Paz em 2004. O documento está disponível gratuitamente no site oficial do Vaticano.
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