O sacramento da Unção dos Enfermos perdoa os pecados, mas como efeito secundário. O que é um efeito secundário? Imagine-se que alguém contrata uma empresa para construir o segundo andar de um prédio. Essa é a finalidade primária do contrato firmado. Mas, se, antes de realizar a obra, a construtora percebe que o primeiro andar não está bem edificado, é preciso que ela trabalhe nele antes de fazer o segundo. Isso não estava previsto em nenhuma cláusula, mas deverá ser realizado pela empresa, a fim de que se cumpra o objetivo principal do contrato.
Do mesmo modo, a primeira finalidade da Unção dos Enfermos é curar a alma dos efeitos do pecado. O perdão dos pecados é efeito primário de outro sacramento: a Confissão. Por isso, quando uma pessoa tem uma doença física, mas está em pecado mortal, é seu dever pedir ao sacerdote que lhe ministre o sacramento da Penitência. Também os sacerdotes deveriam ter a prudência pastoral de perguntar aos enfermos se eles querem se confessar. Dado que o perdão dos pecados não é algo automático, mágico, também é importante ajudar a pessoa a excitar em seu coração o arrependimento de seus pecados, pois muito pior que o padecer do corpo é a morte da alma.
É claro que, se já não se estiver consciente, a Unção dos Enfermos é suficiente para o perdão dos pecados. Porém, é importante que as famílias dos doentes recorram aos sacerdotes antes que isso aconteça. É possível supor que um bom católico, mesmo inconsciente, esteja arrependido de seus pecados. Mas, não se trata de uma suposição óbvia. Daí a importância de preparar com cuidado as almas para sua salvação eterna, com os sacramentos da Penitência e da Unção.
A Extrema-Unção tem como efeitos primários alguns listados no Catecismo da Igreja Católica [1], que podem ser resumidos em aliviar a alma dos efeitos do pecado. Ora, só comete pecados quem chegou ao uso da razão. Por isso, o Código de Direito Canônico exige que se administre “a unção dos doentes (...) ao fiel que, tendo atingido o uso da razão, por motivo de doença ou velhice, começa a encontrar-se em perigo de vida” [2]. Aqui se percebe que o fim principal da Unção não está relacionado, como muitos pensam, à cura física, mas sim ao alívio espiritual. A Igreja reconhece, assim, que a enfermidade é uma verdadeira batalha: contra a moleza e a frouxidão em praticar atos de virtude; contra a angústia que se pode viver pela gravidade da própria doença; contra o medo da morte; contra as tentações do demônio; e, por fim, contra a possibilidade de perder a confiança e a esperança em Deus.
Como efeitos secundários deste sacramento, podem ser enumerados: o perdão dos pecados, de que já se falou; a remissão parcial ou total das penas temporais devidas pelo pecado; e a cura física, “quando for útil para a salvação” [3].
Recomendações bibliográficas
- Epístola de São Tiago 5, 14-15
- Santo Tomás de Aquino, Suma contra os gentios, IV, LXXIII
- Concílio de Trento, Doutrina sobre o sacramento da extrema-unção: DS 1694-1700
Referências bibliográficas
- Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1520-1523
- Código de Direito Canônico, cân. 1004
- Santo Tomás de Aquino, Suma contra os gentios, IV, LXXIII, 1
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